Introdução
O transplante renal está associado a resultados cardiovasculares (CV) consideravelmente melhores e qualidade de vida entre pacientes com doença renal terminal (ESRD), quando comparados com outras modalidades de substituição renal. Essa melhora está relacionada à restauração da função renal conferida pelo transplante. No entanto, a taxa de eventos CV permanece significativamente maiores entre os receptores de transplante, em comparação com indivíduos da mesma idade e sexo na população em geral, em parte devido à rigidez arterial e à calcificação vascular ativa que persistem após o transplante renal.
A
calcificação vascular é um processo biológico ativo e bem regulado, promovido
por um desequilíbrio entre as substâncias pró-calcificantes e inibidoras da calcificação
que levam à osteogênese. Independentemente das características histoanatômicas
e etiológicas das calcificações vasculares, diminuição da atividade de
inibidores da calcificação endógena, como a potente Proteína da Matriz
Gla (MGP), permite a mineralização da parede
vascular. A MGP é uma proteína pequena, com aproximadamente 10 kDa que é
expressa principalmente por osteoclastos, condrócitos e células musculares
lisas vasculares. Sua ativação confere atividade de inibição de calcificação e
depende de dois processos pós-tradução: a carboxilação de glutamato dependente
de vitamina K e a fosforilação de serina.
A
ativação de MGP (fosforilada e carboxilada) inibe o crescimento local dos cristais
e a apoptose das células do músculo liso vascular, enquanto que a MGP descarboxilada e defosforilada (dp-ucMGP) é inativa, tem baixa afinidade
pelo cálcio e é então liberada na circulação. Os estudos têm demonstraram que
os níveis plasmáticos de dp-ucMGP são marcadores do estado vascular de vitamina
K - com altos níveis indicando deficiência vascular de vitamina K - e estão
positivamente associados à rigidez arterial. Há evidências crescentes de que a
maioria dos pacientes com hemodiálise possui deficiência subclínica de vitamina
K e que a suplementação com vitamina K diminui marcadamente os níveis
circulantes de MGP inativo. Mais recentemente, a insuficiência de vitamina K
mostrou-se altamente prevalente em indivíduos transplantados renais estáveis
e foi associada ao aumento do risco de mortalidade.
Objetivo e Metodologia
Este estudo teve
como objetivo avaliar a associação entre as alterações no status de vitamina K
e os índices de rigidez arterial. Para isso, 60 pacientes que receberam transplante renal foram
selecionados para receberem durante 8 semanas uma suplementação com vitamina
K2.
Para análise dos
resultados, a rigidez arterial foi avaliada através da velocidade da onda de
pulso carótido-femoral (cfPWV) e a deficiência subclínica de vitamina K foi
definida pela concentração plasmática da proteína Gla da matriz descarboxilada
e desfosforilada (dp-ucMGP) >500pmol/L.
Resultados
No início do estudo, 53,3% dos indivíduos tinham deficiência
de vitamina K. A suplementação foi associada com uma redução média de 14,2% de
cfPWV na semana 8. Além disso, a concentração média de dp-ucMGP também foi
significativamente reduzida em 55,1% após a suplementação, com redução na
prevalência da deficiência subclínica de 40%.
Conclusão
Foi possível concluir que, em pacientes que receberam
transplante renal e suplementação de vitamina K2, houve melhora na deficiência
subclínica da vitamina e da rigidez arterial.
Referência
Mansour AG1,
Hariri E1, Daaboul Y2, Korjian S3, El Alam A1, Protogerou AD4, Kilany H5, Karam
A5, Stephan A5, Bahous SA6. Vitamin K2 supplementation and arterial stiffness
among renal transplant recipients-a single-arm, single-center clinical trial. J
Am Soc Hypertens. 2017 Sep;11(9):589-597. doi: 10.1016/j.jash.2017.07.001. Epub
2017 Jul 13.