A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) é um problema de saúde em todo o mundo. Atualmente, estima-se que 170 milhões de pessoas estejam infectadas, e cerca de 2 a 3 milhões de novos casos são diagnosticados a cada ano, a maioria dos quais resultará em infecção crônica. O HCV pertence à família Flaviviridae e é um vírus encapsulado com um genoma de RNA de fita simples.
O HCV causa alterações metabólicas que têm sido associadas à lipogênese, esteatose hepática, resistência à insulina (RI), síndrome metabólica e diabetes.
O ciclo de replicação do HCV tem sido predominantemente associado a alterações no metabolismo lipídico; entretanto, vários estudos indicaram que uma atividade direta da proteína nuclear do vírus pode alterar o metabolismo da glicose, eventualmente causando RI.
Um mecanismo proposto é o de que o núcleo do HCV GT1 bloqueia a cascata de sinalização da insulina, proteína quinase B (Akt)/ proteína alvo da rapamicina em mamíferos (mTOR)/proteína ribossômica S6 quinase β-1, aumentando a expressão do fator de necrose tumoral α (TNF-α). Isso pode levar à inativação do substrato do receptor de insulina 1 e bloquear a entrada de glicose nas células, impedindo a ativação de transportadores de glicose.
Certas terapias, incluindo a suplementação com aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), podem aumentar a sensibilidade à insulina e diminuir a RI. Sob condições de RI, foi relatado que os BCAAs ativam a fosfoinositídeo 3-quinase (PI3K), que aumenta a ação da insulina (aumenta a sensibilidade à insulina e/ou diminui a RI) e permite a entrada de glicose celular e a síntese proteica mediada por mTOR.
Em pacientes com HCC, os níveis séricos de BCAAs (leucina, valina e isoleucina) são relativamente baixos em comparação com os de aminoácidos aromáticos (AA; triptofano, fenilalanina e tirosina) e metionina.
A suplementação oral com BCAA pode reduzir a glicose sanguínea, e mitigar a HCC. Além disso, o BCAA pode suprimir a expressão de G6P e, portanto, a etapa final da gliconeogênese. BCAA também demonstrou melhorar a fraqueza e fadiga em comparação a outros tratamentos, de acordo com a melhora nos escores do 36-item Short Form Health Surveys (SF-36).
Objetivo do Estudo
Nesse estudo, os pesquisadores determinaram os efeitos do BCAA na resistência à insulina e qualidade de vida em pacientes com Hepatite C. Assim, 20 não-diabéticos com hepatite C que não responderam ao peginterferon-α e ribavirina foram recrutados e receberem durante 3 meses BCAA 30 g após um mínimo de 10 h de jejum da noite.
Os níveis séricos de glicose, insulina, albumina, triglicerídeos e colesterol foram avaliados do início aos 3 meses. Além disso, a resistência à insulina foi mensurada através do Homeostasis Model Assessment-IR.
Resultados
• A maioria dos indivíduos (85%) exibiu algum nível de melhora nos escores de HOMA-IR após tratamento com BCAA, e aos 3 meses, houve diminuição global no escore mediano de HOMA-IR que foi determinado como significativo (p=0,0006);
• No início do estudo, 70% dos indivíduos tinham resistência à insulina e após o tratamento com BCAA houve redução de 50%;
• A qualidade de vida dos pacientes melhorou em três dos oito aspectos avaliados pelo questionário 36-item Short Form Health Survey: limitações de funções devido a problemas de saúde física e a problemas emocionais, e função social.
Conclusão
A suplementação com BCAA reduziu a resistência à insulina e melhorou a qualidade de vida em pacientes com hepatite C.
Referência
Ocaña-Mondragón A1, Mata-Marín JA2, Uriarte-López M3, Bekker-Méndez C1, Alcalá-Martínez E2, Ribas-Aparicio RM4, Uribe-Noguéz LA1,4, Rodríguez-Galindo DM5, Martínez-Rodríguez ML1. Effect of branched-chain amino acid supplementation on insulin resistance and quality of life in chronic hepatitis C patients. Biomed Rep. 2018 Jan;8(1):85-90. doi: 10.3892/br.2017.1012. Epub 2017 Nov 3.