Dieta e Equilíbrio Proteico: Do Mito ao Salvador!
É muito comum observarmos na rotina alimentar dos jovens, adultos, idosos ou crianças a má distribuição de proteínas ao longo das refeições, principalmente as intermediárias (meio da manhã e meio da tarde). O consumo exacerbado de carboidrato impera na vida das pessoas por serem de fácil acesso, apelo das propagandas feitas pela indústria alimentícia e maior facilidade na conservação.
O que é mais fácil para o indivíduo, realizar uma refeição com uma barra de cereal, algum outro alimento industrializado cheios de açúcares, conservantes ou uma simples porção de raiz com ovos? Realmente, dar o que o corpo precisa parece necessitar um pouco mais de planejamento e disciplina. O não cumprimento dessas “necessidades” pode acarretar em diversas desordens metabólicas em longo prazo, como dislipidemia, diabetes, obesidade dentre outras consequências. Infelizmente, isso é a realidade de saúde da sociedade moderna atual.
Hoje se estuda muito a importância do fracionamento da ingestão de proteínas ao longo do dia, estando ligada a melhora e manutenção da saúde de alguns indivíduos. Ao contrário do que a população pensa, os idosos parecem necessitar de maiores quantidades de proteína comparada a um adulto jovem. Mecanismos potenciais para explicarem essa demanda aumentada, podem incluir redução do fluxo sanguíneo para tecidos musculares, redução de transportadores de aminoácidos na membrana celular e / ou redução da sinalização anabólica de fatores de crescimento ou nutrientes, incluindo o aminoácido leucina.
A leucina é um aminoácido conhecido por estimular o início da síntese proteica muscular através da ativação do complexo (mTOR). Os aumentos nas concentrações intracelulares de leucina após uma refeição induzem a fosforilação de mTOR, resultando na ativação de várias cascatas bioquímicas para dar continuidade ao processo de síntese muscular.
Numerosos estudos também mostraram melhorias nos perfis lipídicos com dietas aumentadas no consumo de proteínas. Foi visto uma melhoria acentuada no metabolismo de carboidratos e lipídios em aborígines australianos diabéticos, onde a energia de proteína atingiu 54% da ingestão diária total de calorias, equivalente a 1,9g kg/peso/dia para um individuo de 80 kg.
Outros estudos mostraram que a substituição de dietas normocalóricas hiperglicídicas por dietas hiperproteicas pode reduzir pressão arterial, colesterol total, LDL e VLDL e triglicerídeos enquanto aumenta o HDL colesterol.
Melhorias na sensibilidade à insulina e manutenção da massa muscular também foi visto em mulheres obesas com dietas hiperenergéticas com elevado teor de proteínas comparado a dietas hiperenergéticas com alto carboidrato.
Evidências epidemiológicas recentes também mostram uma correlação inversa entre a ingestão de proteínas e a doença cardiovascular e mortalidade por acidente vascular cerebral. O consumo dietético aumentado de proteína tem sido associado a níveis plasmáticos mais baixos de homocisteína, possivelmente por ingestão concomitante de vitamina B-12.
Os fatos revelam possibilidade de melhora da qualidade de vida, longevidade e estética com simples ajustes na alimentação. Seguir um planejamento alimentar feito por um profissional capacitado, somado a atividade física e hábito saudáveis, podem prolongar a vida do indivíduo, ficando cada vez mais distante de doenças metabólicas que a cada dia se alastram mais e mais na vida da população mundial.
Por Dr. Rafael Félix
Nutricionista Esportivo
06.05.2018
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