Introdução
O cérebro é
uma estrutura fortemente baseada em lipídeos, altamente oxigenada, propensa ao
estresse inflamatório. A ingestão dietética, boa ou má, pode influenciar o
estado oxidativo e inflamatório do cérebro e, portanto, sua função. Outra
categoria são os efeitos agudos sobre o metabolismo celular.
A ingestão
dietética está envolvida em todos os aspectos da função de um neurônio,
variando em influenciar a estrutura básica da própria célula (por exemplo,
composição de fosfolípidos); a potenciais de descanso e ação; a síntese de
neurotransmissores a partir de aminoácidos e precursores de vitaminas (por
exemplo, piridoxal 5'-fosfato, uma forma de vitamina B6, que é uma coenzima
necessária para a biossíntese de ácido gamma-aminobutírico (GABA),
norepinefrina e serotonina a partir de ácido glutâmico, tirosina e triptofano,
respectivamente).
As vitaminas B6,
B12 e folato são necessários para apoiar reações de metilação, algumas das
quais são mencionadas acima e também são importantes na regulação de genes. É
interessante notar que a metilação é o único método para a regulação de genes
no DNA mitocondrial e que essas vitaminas são críticas para a função
mitocondrial.
Como muitas
áreas de nutrição, a maioria das pesquisas sobre a conexão dieta-cérebro se
concentrou em deficiências de micronutrientes, como o papel das vitaminas B em
declínio cognitivo ou doenças como Korsakoff e demência. Sabe-se muito pouco
sobre muitos outros fitoquímicos que são comumente encontrados em alimentos (ou
seja, ainda não definidos como essenciais ou mesmo como nutrientes). Ainda
menos se sabe sobre como esses componentes da dieta influenciam o cérebro de
jovens adultos saudáveis. Uma exceção a esta tendência geral é um crescente
interesse em um possível papel para as xantofilas, especificamente a luteína
(L), a zeaxantina (Z) e a meso-zeaxantina (MZ).
Estudos têm
sugerido que altos níveis séricos de luteína e zeaxantina no sistema nervoso
central (quantificado através da Densidade Óptica do Pigmento Macular [DOPM])
estão relacionados com a função cognitiva em idosos.
Luteína e Zeaxantina
A luteína e a zeaxantina são pigmentos amarelos que se localizam na
região macular, por isso também chamados de pigmentos maculares. Não são
sintetizadas por nosso organismo, portanto necessitam ser obtidas por meio da
ingestão diária de alimentos onde se encontram presentes. São encontradas nos
vegetais e podem ser identificadas quantitativamente através da cromatografia
líquida de alta performance (CLAP).
Acredita-se que indivíduos com baixa densidade óptica de pigmentos
maculares teriam um risco maior para a evolução de degeneração macular
relacionada à idade (DMRI). Além das evidências de que os pigmentos diminuiriam
a irradiação luminosa nos fotorreceptores e atuariam como antioxidantes, os
fatores de risco para sua baixa densidade são os mesmos para DMRI, o que
constitui evidência circunstancial para a hipótese. Assim, atualmente existe um
extenso investimento no estudo e desenvolvimento de técnicas que quantifiquem
os pigmentos na mácula in vivo.
Luteína e Zeaxantina no Tecido Neural
A concentração de xantofilas (zeaxantina
e luteína) no tecido neural pode ser correlacionada com aspectos visuais e
cognitivos (memória e atenção) em indivíduos jovens e idosos. A administração
destas substâncias melhora os padrões cognitivos em vários domínios. A
concentração de zeaxantina e luteína no tecido cerebral se relacionam com a
memória e fluidez verbal e a demência associada à idade.
O estudo
abaixo conduzido por pesquisadores da Universidade da Geórgia nos Estados
Unidos, avaliaram o uso da suplementação combinada de luteína e zeaxantina em
indivíduos jovens.
Estudo Clínico 1 – Luteína e Zeaxantina Melhoram
os Padrões Cognitivos e de Atenção em Indivíduos Jovens
Renzi-Hammond et al. (2017) conduziram um estudo que teve como objetivo determinar
se a suplementação de luteína + zeaxantina melhora a função cognitiva em
indivíduos jovens com idades entre 18 e 30 anos. Para isso, 51 jovens saudáveis participaram deste
estudo clínico randomizado, duplo-mascarado e placebo-controlado. Eles foram
separados em dois grupos para receberem a seguinte posologia por um ano: grupo
1 (n=37) 10 mg de luteína + 2 mg de Zeaxantina dose diária; ou grupo 2 (n=14)
placebo.
Parâmetros Avaliados:
A DOPM foi
avaliada psicofisicamente usando fotometria de cintilação heterocromática
personalizada usando a plataforma do CNS Vital Signs. A DOPM e a função
cognitiva foram avaliadas a cada quatro meses por um período de um ano de
suplementação.
Resultados:
- A suplementação
aumentou os níveis de DOPM de maneira ao longo de um ano quando comparado com o
placebo (p<0,001);
- A administração
diária de luteína e zeaxantina aumentaram a memória espacial (p<0,04), a
capacidade de raciocínio (p<0,05) e atenção.
Conclusão:
A
suplementação de luteína e zeaxantina melhoraram a função cognitiva em
indivíduos jovens saudáveis. A magnitude da melhora foi similar com os efeitos
cognitivos observados em outras populações.
Referências
Bibliográficas
Renzi-Hammond LM1,2, Bovier ER3,4, Fletcher LM5,
Miller LS6, Mewborn CM7, Lindbergh CA8, Baxter JH9, Hammond BR10. Effects of a Lutein and Zeaxanthin
Intervention on Cognitive Function: A Randomized, Double-Masked,
Placebo-Controlled Trial of Younger Healthy Adults. Nutrients. 2017 Nov
14;9(11). pii: E1246. doi: 10.3390/nu9111246.
Lindbergh
CA1, Renzi-Hammond LM1, Hammond BR1, Terry DP1, Mewborn CM1, Puente AN1, Miller
LS1. Lutein and Zeaxanthin Influence
Brain Function in Older Adults: A Randomized Controlled Trial. J Int
Neuropsychol Soc. 2018 Jan;24(1):77-90.