Introdução
A Infecção do Trato Urinário
(ITU) é uma das infecções bacterianas mais comumente adquiridas em pacientes
ambulatoriais e hospitalizados. Aproximadamente 11% de todas as mulheres com
idade ≥18
anos nos EUA tem uma ITU a cada ano. Apesar disso, o risco de progressão da ITU
(cistite) da bexiga para a pielonefrite é negligenciável entre mulheres saudáveis, tendo a então, uma propensão a recorrer. Entre mulheres saudáveis com idade entre
18 e 39 anos, o risco de recorrência de 6 meses após uma primeira ITU é 24%.
Aproximadamente 5% das mulheres com uma ITU inicial tem múltiplos episódios
dentro de um ano. Os principais fatores de risco para ITU entre as mulheres de
18 a 39 anos estão envolvidos com relações sexuais e histórico de UTI.
Nos EUA e em todo o mundo, os
uropatógenos são cada vez mais resistentes aos antibióticos. As mulheres com
ITUs recorrentes recebem prescrição de cursos repetidos de antibióticos tanto
como tratamento quanto como estratégia preventiva. Como a terapia com
antibióticos é um dos principais fatores de resistência e afeta negativamente a
microbiota normal, as estratégias preventivas que reduzem a necessidade de
antibioticoterapia são particularmente importantes.
A deficiência de vitamina D tem
sido associada com diversas consequências adversas à saúde, incluindo doenças
autoimunes e infecções. O resultado de estudos epidemiológicos tem demonstrado
a existência de uma relação entre deficiência de vitamina D e aumento da
ocorrência de tuberculose pulmonar e infecções respiratórias. Recentemente, foi
demonstrada uma associação entre baixos níveis de 25-hidroxi vitamina D (25(OH)
vitamina D) e o risco de recorrência de infecções bacterianas.
Neste contexto, foi conduzido
este estudo retrospectivo com objetivo de avaliar a existência da relação entre
os níveis de 25(OH) vitamina D e o risco de recorrência de ITUs em mulheres
pré-menopausadas.
Materiais e Métodos
Foram incluídas 93 mulheres
pré-menopausadas com ITUs recorrentes que foram acompanhadas entre 2009 e 2011
pelo Infections Diseases Unit of EMMS,
um hospital de cuidado primário em Nazaré, Israel. As mulheres tinham idade
entre 20-52 anos e não receberam antibióticos para profilaxia de recorrência de
ITUs. Os casos de recorrência de ITU foram comparados com 93 mulheres sem
histórico de recorrência de ITU (grupo controle), com o objetivo de avaliar os
níveis de 25(OH) Vitamina D e diferentes fatores de recorrência de ITU, que foi
definida como 3 ou mais episódios de ITU em um período de 12 meses.
Resultados
- Os
níveis de 25(OH) vitamina D entre mulheres com ITUs recorrentes foi
significativamente menor que as do controle (9,8 ng/mL ± 4 vs. 23 ng/mL ± 6; p< 0,001).
- Análises
multivariadas mostraram que os níveis séricos de 25(OH) vitamina D <15 ng/mL
foram associados com a recorrência de ITUs em mulheres pré-menopausadas.
- O
menor nível de vitamina D de 25 (OH) foi de 4 ng/ml, que foi encontrado em um
indivíduo que sofria de UTIs recorrentes (pelo menos 6 episódios/ano); o nível
mais alto foi de 46 ng/ml, que foi encontrado em um indivíduo no grupo
controle.
Discussão
Neste estudo retrospectivo,
descobrimos que a deficiência de vitamina D em mulheres pré-menopausadas foi
associada de forma independente a ITUs recorrentes.
Os mecanismos que ligam a deficiência
de vitamina D com ITU recorrente são desconhecidos. Existem muitos fatores de
defesa do hospedeiro no trato urinário, como a proteína Tamm-Horsfall,
lipocalina e lactoferrina, que oferecem alguma proteção contra a infecção. As
infecções do trato urinário induzem células epiteliais a produzirem catelicidina LL-37, que promove
proteção contra a infecção bacteriana. A vitamina D é um potente estimulador de
peptídeos antimicrobianos, incluindo catelicidina
LL-37 na imunidade inata.
Recentemente, Hertting et al. observou um aumento significativo
na catelicidina, em resposta à vitamina D, em amostras de biópsia de bexiga
urinária infectadas por Escherichia coli uropatogênica.
Nos seres humanos, a produção de catelicidina e de algumas defensinas depende
dos níveis de vitamina D, particularmente durante o processo de infecção.
Estudos anteriores mostraram a importância da vitamina D para a imunidade inata
na defesa das infecções bacterianas, principalmente pelo aumento da motilidade
neutrofílica e função fagocítica. Consideramos que esses mecanismos mencionado
poderia explicar por que as mulheres com baixos níveis séricos de 25(OH)
vitamina D são propensas a ITU recorrentes. No entanto, são necessários mais
estudos para investigar os mecanismos envolvidos na patogênese da deficiência
de vitamina D e predisposição a infecções bacterianas.
Em estudos de casos e controles,
Scholes et al. e Hooten relataram que uma história de ITU na mãe está associada
ao aumento de 2-3 vezes no risco de ITU em suas filhas. Uma história materna de
ITU sugere que os fatores hereditários podem ser importantes em alguns casos de
ITUs recorrentes. Caso contrário, esse fator de risco poderia refletir outros
fatores ambientais compartilhados ou comportamentos presentes nas mães e nas
filhas. A contribuição da genética para ITUs foi discutida em vários estudos.
Lundstedt et al. mostraram que a susceptibilidade à pielonefrites agudas é
hereditária e que a baixa expressão de CXCR1 pode predispor a pielonefrite
aguda. No nosso estudo, descobrimos que uma história materna de ITU foi
associada com um aumento de 1,6 vezes no risco de ITU recorrente.
Lactobacilos são bactérias dominantes
da flora vaginal, no qual possuem propriedades que regulam a microbiota
urogenital. A cura incompleta e recorrência de infecções genitourinárias leva a
uma mudança na flora local a partir de uma predominância de lactobacilos para
uropatógenos coliformes. O uso de probióticos contendo Lactobacillus para restaurar a flora vaginal comensal tem sido
proposto para o tratamento e profilaxia de ITUs recorrentes. Recentemente, uma
meta-análise foi feita em relação aos Lactobacillus
para a prevenção de ITUs em mulheres.
Conclusão
Em conclusão, a deficiência de
vitamina D demonstrou estar associada com ITUs recorrentes em mulheres
pré-menopausadas.
Referência
William Nseir a,b,c,*, Muhamad Taha b, Hytam
Nemarny a, Julnar Mograbi a. The association between serum levels of vitamin D
and recurrent urinary tract infections in premenopausal women. International Journal of Infectious Diseases 17
(2013) e1121–e1124.