Resumo
Dados
epidemiológicos demonstraram uma associação inversa entre os níveis séricos de
vitamina D3, a incidência de câncer e a mortalidade relacionada. No entanto, os
efeitos da vitamina D na biologia do câncer de próstata e sua utilidade para a
prevenção da progressão deste tipo de câncer não são tão bem definidos. Os
dados disponíveis geralmente são conflitantes: alguns relatórios sugerem que a
vitamina D3 induz a apoptose em linhas celulares do câncer de próstata
dependentes de andrógeno, enquanto outros sugerem que a vitamina D3 induz
apenas a prisão do ciclo celular. Estudos moleculares recentes identificaram uma
extensa interferência (crosstalk)
sinérgica entre a vitamina D e o RNAm mediados por andrógenos e pela expressão
de miRNA, adicionando uma camada de regulação pós-transcrição para a ativação
conhecida de genes regulados pelo receptor de vitamina D (VDR) e receptor de
andrógeno (AR). O efeito Warburg, a via metabólica ineficiente que converte
glicose em lactato para a geração de energia rápida, é um fenômeno comum a
muitos tipos diferentes de câncer. Este processo auxilia na proliferação
celular e promove a progressão do câncer através da alteração do metabolismo da
glicose, glutamina e dos lipídeos. O câncer de próstata é uma exceção notável a
este processo geral, uma vez que o interruptor metabólico que ocorre no início
da malignidade é o inverso do efeito Warburg. Este "efeito
anti-Warburg" é devido à biologia única das células normais da próstata que
abrigam um ciclo de TCA truncado que é necessário para produzir e secretar
citrato. Em células cancerosas prostáticas, a atividade do ciclo TCA é
restaurada e a oxidação do citrato é usada para produzir energia para a proliferação
dessas células. A 1,25 (OH)2D3 e andrógeno em conjunto
modulam o Ciclo de TCA via regulação transcricional de transportadores de
zinco, sugerindo que a 1,25 (OH)2D3 e os andrógenos
mantêm o metabolismo da próstata normal bloqueando a oxidação do citrato. Estes
dados demonstram a importância dos andrógenos no efeito antiproliferativo da
vitamina D no câncer de próstata e destacam a importância de compreender a interferência
entre estas duas vias de sinalização.
Biologia
do Câncer de Próstata
O
câncer de próstata (CP) é a neoplasia maligna não cutânea mais comumente
diagnosticada em homens na América do Norte. Esta doença geralmente é
considerada um câncer dependente de androgênio, uma vez que a próstata normal é
claramente dependente deste tipo de hormônio devido a sua estrutura e função.
Paradoxalmente, a incidência dependente da idade e a mortalidade associada do
CP entre 50 e 60 anos de idade aumentam após os níveis séricos de testosterona
começarem a diminuir significativamente, particularmente após a idade de 65
anos. Os adenocarcinomas da próstata são tumores de crescimento lento
caracterizados por baixo índice mitótico e uma longa história natural. A
progressão da próstata normal para a neoplasia intra-epitelial prostática (PIN)
e, eventualmente, para o adenocarcinoma localizado ocorre ao longo de várias
décadas. Estudos de autópsia mostraram que o adenocarcinoma prostático e o PIN
pré-maligno são evidentes nos meados dos 30 anos. O desenvolvimento do CP
avançado localmente invasivo e doença metastática é um processo relativamente
tardio para o qual existem tratamentos limitados, e a terapia de ablação
hormonal utilizada neste estágio tardio aplica um estresse seletivo que, provavelmente,
é responsável pelo desenvolvimento do CP resistente à castração (CRPC).
Vitamina D e a Próstata
Muitos
estudos epidemiológicos sugerem que níveis séricos de vitamina D elevados,
geralmente medidos como 25 (OH)-vitamina D3 no soro (25 (OH) D3) podem ser
importantes na prevenção de vários tipos de câncer, incluindo câncer de mama,
ovário e de cólon. O
risco do desenvolvimento e morte desses cânceres parece estar inversamente
correlacionado com a exposição ao sol e/ou o status de vitamina D, sugerindo que essa vitamina possui
propriedades quimiopreventivas. Alguns estudos também sugeriram que a vitamina D
desempenha um papel na prevenção do CP, mas esses dados são menos conclusivos
do que em outros tipos de câncer e várias meta-análises recentes encontraram
associações fracas ou ausentes entre os níveis de 25 (OH) D3 e a incidência de
tumor da próstata ou sua progressão. Entretanto, um estudo recente com homens
diagnosticados com CP mostrou que 72% dos homens com a doença recorrente e 68%
com a doença clinicamente localizada eram insuficientes ou deficientes nos
níveis séricos de 25 (OH) D3, inferiores a 20 ng/mL (níveis desejáveis > 40
ng/mL). Esses dados sugerem que a maioria dos homens com CP tem níveis baixos
de andrógeno circulante e níveis baixos de 25 (OH) D3 no momento do
diagnóstico. Com base em muitos estudos in
vitro, estudos pré-clínicos e clínicos, sugeriu-se que a vitamina D pode
ser utilizada como agente quimiopreventivo ou como agente terapêutico para o CP.
Apesar da extensa pesquisa, a importância da vitamina D como agente
quimiopreventivo para o CP ainda é uma questão controversa considerável, e os
resultados da intervenção terapêutica usando a 1,25-dihidroxivitamina D3 (1,25
(OH) 2D3), metabolito ativo da vitamina D3 ou seus análogos menos calcémicos,
geralmente foram decepcionantes. Em pacientes com CP de baixo risco que se
matricularam em vigilância ativa, a alta dose de suplemento de vitamina D3
diminuíram o escore de Gleason ou o
número de núcleos positivos em mais de 50% dos pacientes, enquanto que a
suplementação adjuvante de 1,25 (OH) 2D3 forneceu resultados mistos em CRPC ou
doenças recorrentes.
Vários
relatórios sugerem que a ação da vitamina D em células de CP é dependente de
andrógenos. Em ratos Sprague-Dawley, a administração de 1,25
(OH) 2D3 diminuiu o tamanho da próstata em machos intactos, mas não em grupos
castrados. Estudos
longitudinais demonstraram uma correlação positiva entre os níveis de 25 (OH)
D3 e a produção de andrógeno, que foi ainda validada in vitro. No
entanto, a vitamina D também induz a expressão de CYP3A4 e CYP3A5, enzimas que
metabolizam e inativam a testosterona e androstanodiol em células da próstata,
sugerindo que a sinalização de vitamina D pode desempenhar um papel na
limitação dos níveis de andrógeno na próstata. Estudos prévios in
vitro mostraram que a 1,25 (OH) 2D3 também induz aumentos moderados nos
níveis transcricionais do receptor de andrógeno (AR), antígeno prostático
específico (PSA) e protease transmembranar-serina 2 (TMPRSS2), porém este
achado não se traduz em configuração clínica onde a 1,25 (OH) 2D3 diminui a
velocidade do PSA. Com
base nestes achados, os níveis séricos de vitamina D parecem ter um impacto
significativo na sinalização mediada por andrógenos e a interferência (Crosstalk) entre os andrógenos e
vitamina D provavelmente desempenha um papel importante na biologia do CP.
Embora haja muitos estudos que examinaram os efeitos dos
andrógenos ou 1,25 (OH) 2D3 individualmente na expressão de genes em células do
CP, há poucos estudos que exploraram o Crosstalk
entre essas duas vias de sinalização e suas conseqüências biológicas.
Sobreposição Genômica da Sinalização
do VDR e AR
O Crosstalk entre a expressão gênica
mediada por VDR e AR demonstrou-se pela primeira vez em células LNCaP. A indução de FACL3 (ligase 3 CoA de ácido graxo de cadeia
longa) é dependente de ambos os níveis de vitamina D e andrógenos, e o
tratamento com bicalutamida inibe a expressão dessa enzima induzida por 2D3
(OH) 2D3. Este efeito coordenado sobre a expressão gênica foi recentemente
validado por um estudo abrangente de microarray
usando o mesmo modelo in vitro. A
1,25 (OH) 2D3 e andrógeno compartilham muitos alvos em comum e modulam coordenadamente
esses níveis de transcrição na mesma direção. Mais importante ainda, a combinação desses dois hormônios
regula genes adicionais, incluindo mRNAs e miRNAs que não foram previamente
identificados. O significado desta camada adicional de controle transcricional
é melhor ilustrado pela análise bioinformática que demonstra o efeito
coordenado da 1,25 (OH) 2D3 e andrógeno em processos celulares, incluindo
homeostase celular, proliferação, diferenciação e metabolismo, os quais têm
impacto significativo na tumorigênese da próstata. A maioria desses processos
são regulados de forma mais significativa por 1,25 (OH) 2D3 e andrógeno juntos
do que cada um sozinho, demonstrando a interação entre essas duas vias de
sinalização. Vários genes identificados a partir da expressão de análises por microarray são alvos VDR e AR validados,
contém VDRE funcional (dentro de upstream de 10kb e downstream de 5 kb do gene estrutural)
e sítios ARE, e alguns genes apresentam indução aditiva após a estimulação com
testosterona e 1,25 (OH) 2D3. Tanto o andrógeno como a 1,25 (OH) 2D3 induzem os
níveis de RNAm do PSA enquanto a adição de testosterona atenua a indução dependente
de vitamina D inicial da Cyp24A1, principal enzima envolvida no catabolismo da 1,25
(OH) 2D3. Isto sugere que a meia-vida da 1,25 (OH) 2D3 é prolongada na presença
de andrógenos exógenos.
Mais
de 50% dos genes responsivos encontrados a partir de dados de microarray não possuem elementos de
resposta funcional em seus promotores quando comparados com telas existentes em
genoma para VDREs e bases de dados responsivas a andrógenos, levantando questões
relacionadas à regulação desses genes, particularmente genes que são expressos
somente se ambos os hormônios estão presentes.
O
efeito anti-neoplásico da vitamina D tem sido associado à sua regulação dos
níveis de miRNA. Isso inclui a repressão da expressão de miR-181ab e a indução
dos níveis de miR-100, miR-125b e miR-22 pela 1,25 (OH) 2D3. A expressão desregulada
de miR106b, que é necessária para a regulação feed-forward loop da expressão de p21 induzida por 2,25 (OH) 2D3 em
células RWPE-1 não-malignas, também tem sido implicada na biologia do câncer de
próstata. As análises de microarray
que investigam a expressão diferencial de RNAmi em células LNCaP após tratamento
com 1,25 (OH) 2D3 e testosterona, sozinhos ou em combinação, sugerem que o VDR
desempenha um papel crítico na regulação de miRNA e destacam as interações
importantes entre a expressão de RNAmi
mediada por VDR e AR. Estes incluem a indução aditiva de miR-22, miR29ab,
miR-134, miR-371-5p, miR-663 e miR-1207-5p e a compensação (down-regulation) sinérgica do grupo (cluster) oncogênico miR-17/92 por
testosterona e 1,25 (OH) 2D3. Ambos o miR-22 e os membros da família do
miR-29 são candidatos supressores de tumor e sua
indução é consistente com o efeito antiproliferativo da vitamina D no CP. Em
comparação, a expressão elevada de miR-371-5p e miR-663 foi correlacionada com
a progressão do câncer e a expressão de miR-663 se associa positivamente com o escore de Gleason, utilizado para
definir os estágios do CP. Em contraste, o cluster
miR-17/92 é conhecido por desempenhar um papel oncogênico e sua expressão tem
sido associada ao CP mais avançado. Além disso, esse cluster é um alvo bem validado para o c-Myc (gene regulador), que
em si é um alvo direto do VDR, e um relatório recente propôs um papel regulador
para o cluster miR-17/92 nos níveis
de PPARα, ligando o miR-17/92 ao metabolismo energético em células de CP. Esta
análise simultânea da expressão de RNAm e RNAmi mediada por VDR e AR revela uma
rede de transcrição extensa e complexa que interconecta c-Myc, PPARα e outra
sinalização mediada por fator de transcrição, que só é ativada quando tanto o
andrógeno como a vitamina D estão presentes. Uma análise abrangente recente de
24 receptores nucleares e 14 fatores de transcrição (TFs) na linha celular de
câncer de mama MCF-7 demonstrou um achado semelhante e identificou sítios
genômicos enriquecidos com receptores nucleares e sítios de ligação de TFs, o
que gera extensas redes reguladoras que podem modular a expressão do gene alvo.
Tais interações funcionais entre receptores nucleares e TFs, incluindo a
interação antagonista entre RARs e AR e PPARδ, e a interação agonista entre VDR
e AR fornecem informações valiosas que podem ser utilizadas para melhorar a
prevenção e a terapia do câncer. As interações funcionais entre AR e VDR, bem
como outros receptores nucleares e TFs também podem ser importantes para o
manejo da doença, especialmente agora que a intervenção nutricional se tornou
mais bem aceita como uma abordagem efetiva para prevenir a progressão do
câncer. Esses dados experimentais sugerem que 1,25 (OH) 2D3 e andrógenos, bem
como outros hormônios e fatores de crescimento desencadeiam pelo menos três
mecanismos para modular a expressão gênica global. Estes incluem a transativação
de genes mediada por AR e VDR; degradação de mRNA mediada por miRNA e repressão
de tradução; e sinalização de transmissão avançada mediada pelo fator de
transcrição. Esses mecanismos não parecem ser mutuamente exclusivos e atuam em
conjunto para regular muitos processos celulares mediados por vitamina D e
andrógenos que têm implicações significativas na carcinogênese da próstata.
Metabolismo
Intermediário: O efeito Warburg
Uma
série de estudos sugeriram que a vitamina D tem um papel novo na regulação do
metabolismo energético. A inativação (knockout) do VDR (VDRKO) e Cyp27b1 (Cyp27b1KO) de camundongos fez com que eles exibissem gastos de energia elevados com
perda subseqüente de gordura corporal ao longo do tempo. Em adipócitos humanos,
a 1,25 (OH) 2D3 inibe a expressão da proteína desacopladora 1 (termogenina) e
altera a homeostase de Ca2+, sugerindo um papel regulador da
vitamina D na termogênese e fornecendo uma justificativa para o fenótipo esguio
observado nos camundongos que possuem VDRKO e Cyp27b1KO. Da mesma forma, tanto
a 25 (OH) D3 como 1,25 (OH) 2D3 promovem a lipogênese em pré-adipócitos humanos,
adipócitos e células progenitoras mesenquimais adiposas derivadas, que está
associada ao aumento da expressão dos marcadores de diferenciação C/EBPα e
PPARγ.
No
entanto, esse efeito pode ser específico para o tipo e linhagem celular, uma
vez que a 1,25 (OH) 2D3 inibe a acumulação lipídica em pré-adipócitos de ratos
3T3-L1 e evita a síndrome do fígado gorduroso induzida por uma dieta rica em
raças em gordura em ratos machos Sprague-Dawley.
Em
células de câncer de mama do tipo T47D, a 1,25 (OH) 2D3 induziu a síntese
lipídica, o que tem sido associado com seu efeito na diferenciação celular e
crescimento celular reduzido. Este efeito lipogênico da 1,25 (OH) 2D3 foi
recapitulado em células LNCaP e é aumentado na presença de andrógeno,
destacando o efeito coordenado da sinalização dos AR e VDR. O aumento da
expressão de PPARα e da sua assinatura genética lipogênica associada, incluindo
a elevação da expressão de ácido graxo sintase (FASN), explica a vitamina D e a
produção de lipídeos induzidos por andrógenos. No entanto, isso ocorre sem
alterações significativas nos níveis de proteína de ligação a elemento regulador
de esterol nuclear 1 (SREBP-1). A ativação nuclear da SREBP-1 implicou na
lipogênese de novo em cânceres mais
agressivos, incluindo CP. Uma análise paralela abrangente recente de vários
estudos genômicos que usaram linhas celulares de CP descobriu um papel
regulador crítico do AR na rede metabólica de energia, com a síntese lipídica
sendo predominantemente um processo regulado por AR. Esses dados sugerem que a sinalização alterada
de AR e seus efeitos nos alvos downstream
da proteína kinase kinase 2 beta dependente de cálcio/calmodulina (CAMKK2),
que regula a atividade de uma proteína kinase ativada por AMP (AMPK), promove
uma interrupção metabólica, que fornece energia para o crescimento e progressão
do CP. Esses dados sugerem um papel divergente da produção lipídica nos tumores
da próstata: a regulação subjugada (up-regulation) dependente de SREBP-1 na
produção de ácidos graxos para a síntese de membrana e de fosfolipídeos e moléculas
de sinalização que são essenciais para a progressão do tumor; ou a elevação
independente de SREBP-1 na acumulação lipídica neutra e
inativa, que restringe o gasto energético e limita o crescimento tumoral.
Além
da modulação do metabolismo lipídico pela vitamina D e andrógenos, a análise de
qPCR sugeriu um papel regulador desses dois hormônios no ciclo TCA em células
de CP. Na maioria das
células normais, o ciclo TCA é utilizado para gerar energia para as funções
celulares normais. Este processo é relativamente lento e a produção de ATP não
atende à demanda das células cancerígenas altamente proliferativas.
Como resultado, as células cancerosas geralmente desengatam
a fosforilação oxidativa mitocondrial da glicólise para a produção rápida de
ATP empregando o processo de fermentação, um processo referido como o efeito
Warburg. As células de CP são uma exceção notável, em que a mudança metabólica
que ocorre é mais apropriadamente considerada como um efeito
"anti-Warburg". A glândula prostática normalmente secreta altos
níveis de citrato no líquido seminal, uma função que é suportada por uma
atividade truncada do ciclo TCA. A próstata tem os níveis mais elevados de
zinco intracelular do que qualquer outro tecido do corpo. Este alto nível de
zinco inativa a atividade da m-aconitase 2, enzima que converte citrato em
isocitrato nas mitocôndrias. Nas células de CP, os transportadores de zinco são
regulados negativamente (Down-regulated),
o que leva a menores níveis de zinco intracelular. Isso restaura a função da
m-aconitase 2 e a conversão de citrato em isocitrato para a produção de ATP via
ciclo TCA. Isto é suportado por dados clínicos e in vitro, demonstrando uma dependência mínima das células de CP
pela glicólise para proliferação, especialmente durante as fases iniciais da
progressão tumoral. Isso exclui o uso de 2-deoxi-2-fluoro-D-glicose (FDG-PET)
marcado com flúor18 para detecção e diagnóstico de CP. Em comparação, o
andrógeno estimula o uso de glicose para facilitar a acumulação de citrato em
células epiteliais normais da próstata e este efeito é mantido em células de CP
responsivas a andrógeno, embora nessas células, o citrato elevado é canalizado
para a produção de lipídios.
Em
células LNCaP, a 1,25 (OH) 2D3 e andrógeno em conjunto, regulam negativamente o
transportador mitocondrial de pirofosfato de tiamina (TPP) (SLC25A19) e regulam
positivamente dois transportadores de zinco (SLC39A1 e SLC39A11). A baixa
expressão de SLC39A1 em glândulas adenocarcinomatosas e focos de PIN foi
documentada e ligada a níveis empobrecidos de zinco. Em comparação, o SLC39A11
é menos caracterizado, mas estudos mostraram que ele é abundantemente expresso
em testículos murinos e sistema digestivo e está associado à importação de
zinco. Isso sugere que a vitamina D e o andrógeno cooperam para repor os níveis
de zinco, inibindo a atividade da m-aconitase em células de CP. Em comparação,
a regulação negativa do transportador de TPP, SLC25A19, afeta os níveis de TPP
da coenzima mitocondrial, levando à menor atividade da piruvato desidrogenase
(PDH) e da alfa-cetoglutarato desidrogenase (OGDH). Em comparação, estudos in vivo mostraram que a administração de
testosterona regula positivamente a expressão e as atividades da PDH e
aspartato aminotransferase mitocondrial para aumentar os pools de substrato
para a síntese de citrato, acetil-CoA e oxaloacetato. Isso sugere que a
vitamina D e a suplementação de andrógenos facilitam a reversão do mecanismo
metabólico que ocorre durante a carcinogênese da próstata, prevenindo a
oxidação do citrato, restaurando parcialmente a função prostática normal e
desviando o citrato no citoplasma para secreção e síntese lipídica. Isto é apoiado
pela observação de que as células LNCaP mantêm a sensibilidade à produção e à
acumulação de citrato induzidas por andrógenos. Isso sugere que a vitamina D
facilita e mantém esse fenótipo diferenciado, tornando as células de CP menos
agressivas. Isso também sugere que manter ou restaurar os níveis adequados de
andrógeno, acompanhado de suplementação de vitamina D, atrasará
significativamente a progressão do CP em homens mais velhos.
Destacando
ainda mais o impacto da vitamina D e dos andrógenos na reposição do metabolismo
das células cancerosas, a 1,25 (OH) 2D3 e androgênio também reduzem os níveis
de c-Myc, cujas muitas funções incluem reprogramação metabólica para
impulsionar a progressão do tumor, incluindo a indução de glicólise e
glutaminólise. Embora haja boas evidências sugerindo uma correlação positiva
entre os níveis séricos de glutamato e um CP mais agressivo, a dependência do
CP na glutaminólise para geração e progressão de energia ainda não é bem
estudada. No entanto, é razoável sugerir que, em resposta à vitamina D e à
estimulação de andrógenos, as células de CP revertem ou bloqueiam a mudança
metabólica que ocorre no início da doença e bloqueia ainda mais a reprogramação
metabólica mediada por c-Myc, que pode ocorrer independentemente da mudança
metabólica inicial.
Conclusão
Estudos
recentes mostraram uma relação complexa entre a sinalização mediada por
vitamina D3 e andrógenos na próstata normal e no câncer de próstata por meio de
seu efeito coordenado na transcrição do mRNA e do miRNA, proliferação celular e
metabolismo do câncer. Esses dados sugerem que o efeito da vitamina D3 na
expressão global de genes é dependente da atividade do andrógeno e o efeito
combinado deles na transcrição do miRNA e outros TFs. Fenotipicamente, esses dois
hormônios mantêm o metabolismo prostático normal, evitando a diferenciação das
células do câncer de próstata em um fenótipo mais agressivo.
Esses
dados recém-emergentes forneceram uma explicação para as discrepâncias
observadas nos estudos epidemiológicos e experimentais de vitamina D3 no câncer
de próstata, uma vez que não levaram em consideração as interações sinérgicas
entre as duas vias. Esses dados também sugerem que a manutenção dos níveis
adequados de vitamina D3 e andrógenos retardará ou suspenderá a progressão do
câncer de próstata, especialmente para pacientes diagnosticados com a doença no
estágio inicial e confinada localmente. Estudos clínicos caso-controle são
necessários para avaliar completamente o risco e o benefício da combinação
desses dois hormônios em pacientes com câncer de próstata.