Inserção de cápsulas do medicamento no corpo não tem comprovação
científica.
RIO — No universo masculino, um procedimento
controverso e que tem gerado a ira de muitos médicos é o implante de Viagra.
Defendida por pouquíssimos profissionais, essa técnica consiste em pequenas
incisões nas nádegas, onde são inseridas cerca de dez cápsulas, do tamanho de
grãos de arroz, cada uma com uma substância. Entre elas, Viagra, testosterona e
e outros elementos que os profissionais que fazem o implante dizem ser
necessários para evitar efeitos colaterais.
A promessa é de que o Viagra passaria a ser
liberado em pequenas doses e de forma contínua no corpo, fazendo com que um
paciente de 40 anos, por exemplo, volte a ter ereções como um de 25, sem
precisar tomar a pílula azul toda vez que for ter relações sexuais. O implante
pode custar entre R$ 1.500 e R$ 4 mil, e o efeito se prolongaria por uma média
de seis meses. Faz em torno de um ano que se teve notícia do primeiro
procedimento do tipo sendo realizado no Brasil.
Para Eduardo Bertero, coordenador geral do
Departamento de Andrologia e Sexualidade Humana da Sociedade Brasileira de
Urologia (SBU), a técnica é um perigoso tiro no escuro.
— Essa história de que você aplica o Viagra de
forma subcutânea e ele vai sendo liberado aos poucos é difícil de acreditar,
porque o princípio do Viagra é justamente oferecer um pico de funcionamento,
que dura cinco ou seis horas. Como se faz para liberá-lo aos poucos eu não sei.
Ele não é como um hormônio — explica Bertero.
O urologista conta que trabalha com Viagra desde o
lançamento do medicamento, há mais de 20 anos. E ele nunca foi testado
cientificamente de forma subcutânea, portanto não há como saber se funciona ou
mesmo se é seguro.
— É lógico que a ideia é atraente. Mas a absorção
subcutânea é diferente da oral, então não sabemos quantos miligramas do Viagra
implantado devem ser absorvidos pela corrente sanguínea para que ele faça
efeito. Sem estudos em camundongos e depois em humanos mostrando isso, como
vamos saber que dose implantar, se vai ser eficaz, se vai ser seguro? —
questiona. — Já se fez experimentos de injeção de Viagra no pênis e não
funcionou. Isso torna improvável que funcione por meio de implante.