O termo ‘dieta sem glúten’ foi procurado por mais de 327.000 brasileiros em ferramentas de pesquisas como Google e Bing nos últimos seis meses, aponta levantamento inédito realizado pela SEMrush, empresa que atua no ramo de marketing digital. A dieta sem glúten consiste em restringir parcial ou totalmente o consumo do glúten (proteína presente em alguns cereais). Essa modalidade de dieta tem sido adotada mesmo pela população não celíaca – para quem ela foi previamente elaborada.
Outra pesquisa, realizada pela Inteligência e Pesquisa de Mercado da Editora Abril a pedido da Nestlé, descobriu que 19% dos entrevistados faziam essa dieta; entretanto, apenas 4% tinham doença celíaca, doença auto-imune grave que pode danificar o sistema digestivo e cujo tratamento depende da retirada do glúten da dieta. Outro problema de saúde que pode obrigar o indivíduo a evitar a ingestão da proteína é a intolerância ao glúten, condição crônica caracterizada pela alergia a produtos à base de trigo, cevada e centeio.
Já 30% dos participantes afirmaram ter cortado a substância apenas para fins de emagrecimento. No entanto, estudos recentes apontam que alimentos industrializados rotulados como ‘sem glúten’ não são mais saudáveis e ainda oferecem riscos à saúde.
Ideia ‘plantada’
Análise organizada pela revista francesa 60 Milhões de Consumidores concluiu que boa parte dos alimentos industrializados sem glúten contém mais gordura, açúcar, sal, aditivos químicos e são mais calóricos do que os produtos tradicionais. Eles também têm baixo teor de fibra e proteína – além de serem até 159% mais caros.
Em entrevista à Rádio Francesa Internacional (RFI), a nutricionista Magda Santos ressaltou que a ideia de alimentos sem glúten serem mais saudáveis foi plantada pela indústria agro-alimentar que encontrou um nicho de mercado rentável.
Risco de diabetes
O glúten está presente em diversos alimentos ricos em carboidratos e com alto índice glicêmico (que elevam a taxa de açúcar no sangue), como massas e bolos, que podem engordar e aumentar o risco de diabetes tipo 2, que ocorre quando o corpo não produz insulina suficiente ou não responde a ela da maneira como deveria. Entretanto, essas consequências estão relacionadas ao açúcar do carboidrato e não ao glúten em si. Portanto, eliminá-lo da dieta pode não gerar os resultados esperados, especialmente se a ingestão de carboidratos for elevada.
Uma pesquisa de 2017, realizada pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, também descobriu risco de diabetes tipo 2. Mas, neste caso, para quem elimina o glúten da alimentação. A explicação é simples: quando retiramos a proteína da dieta, consumimos menos fibras. Pouca fibra no organismo é fator de risco para o diabetes. A equipe chegou a esta conclusão depois de acompanhar 200.000 pessoas durante 30 anos e perceber que mais de 15.000 participantes tinham diabetes tipo 2.
Os pesquisadores ainda revelaram que o consumo de mais de 12 gramas de glúten por dia pode prevenir a doença.
Pode ou não pode?
Simone Lima, nutricionista da Puro+, acredita que é possível fazer essa dieta sem prejudicar a saúde, desde que realizada de maneira equilibrada, distribuindo calorias ao longo das refeições e evitando consumir apenas produtos industrializados classificados dentro da categoria.
Alimentos naturais, como frutas, vegetais, sementes e alguns grãos, por exemplo, não contêm glúten e proporcionam um alimentação balanceada. “Para funcionar, é preciso fazer a dieta de forma correta. A possibilidade de doenças, como diabetes, é causada pela falta de equilíbrio provocada pelo consumo inadequado. Tanto para a dieta com glúten quanto para a sem glúten”, esclarece.
A busca pelo saudável
De acordo com estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), oito em cada dez brasileiros buscam manter uma alimentação saudável. Por causa disso, o número de pesquisas na internet sobre o tema tem crescido nos últimos tempos: apenas no último semestre, a palavra ‘dieta’ foi procurada, em média, 4 milhões de vezes. As mais pesquisadas foram: dieta sem glúten (327.570), dieta Dukan (192.610), dieta crudívora (81.330) e dieta do tipo sanguíneo (57.600).
Algumas dessas modalidades se popularizaram por causa de adeptas famosas, como Kate Middleton e Gisele Bündchen, que adotaram a dieta Dukan, método francês caracterizado pela ingestão de proteínas magras associada a exercício físico simples, como caminhada. Já a atriz Jennifer Aniston e a cantora Lady Gaga preferem a dieta da crudívora (ou da comida crua), regime que veta alimentos cozidos acima de 46º C.
No entanto, Simone afirma que as dietas dos famosos nem sempre são adequadas para o restante da população, especialmente quando feitas sem acompanhamento nutricional. “As pessoas tentam reproduzir nelas mesmas o que veem na mídia, mas as dietas precisam ser [realizadas] de acordo com a necessidade de cada indivíduo. Caso contrário, ela pode causar muitos danos”, explica.
Aprenda a comer
Embora ajudem a perder peso a curto prazo, dietas da internet costumam provocar deficiência de nutrientes como consequência da eliminação de grupos alimentares fundamentais para o funcionamento do organismo. Além disso, muitos regimes dietéticos não foram suficientemente testados pela ciência para garantir uma adesão segura e sem riscos à saúde.
Simone informa que a maneira mais saudável de perder peso é a reeducação alimentar, que consiste em aprender a comer alimentos capazes de suprir as necessidades do corpo, com quantidades de fibras, proteínas e vitaminas adequadas, evitando a ingestão excessiva de gorduras, carboidratos, sódio e açúcar – comuns em produtos industrializados.
Segundo a pesquisa da SEMrush, a reeducação alimentar teve cerca de 108.000 buscas no período investigado, o que mostra como o brasileiro entende a importância deste método. No entanto, assim como a dieta convencional, ele precisa ter acompanhamento nutricional apropriado para garantir os melhores resultados.