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Organizações não governamentais e o Conselho Nacional de Saúde iniciaram semana passada um movimento para aumentar impostos de um dos produtos associados com a escalada da obesidade no País: os refrigerantes. Embora o Brasil seja signatário de planos que recomendam a elevação dos tributos de bebidas açucaradas como forma de conter o avanço da doença, associações afirmam que as iniciativas registradas até agora são muito tímidas.
O aumento da taxação de refrigerantes pode reduzir o consumo e evitar a obesidade? Veja abaixo a opinião de especialistas:
Sim. O consumo exagerado de produtos ultraprocessados, com altos teores de açúcar, está entre os principais causadores da crescente epidemia de obesidade. No Brasil, o consumo de açúcar é excessivo, chegando a 16% do total de calorias, muito acima dos 10% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As bebidas açucaradas são importantes vetores de consumo de açúcar e estimulam o consumo despercebido de calorias, portanto, não são recomendadas como parte de uma alimentação saudável. Além disso, essas bebidas ultraprocessadas são comercializadas por toda parte, com ofertas e promoções, e agressivas estratégias de marketing. Evidências ao redor do mundo comprovam que a educação da população é fundamental, porém, em um ambiente alimentar que apenas promove o consumo dessas bebidas, nunca será suficiente. Além disso, existem evidências de que as medidas voluntárias e frágeis de redução de açúcar em bebidas açucaradas não impactam a prevenção da obesidade. (Ana Paula Bortoletto, pesquisadora da área de nutrição e alimentos do Instituto de Defesa do Consumidor – Idec).
Não. A obesidade é uma doença global com causas multifatoriais. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que nos últimos dez anos houve um aumento de 60% no número de obesos, ao mesmo tempo em que se constatou uma queda de 47% no consumo regular de refrigerantes e sucos artificiais. Experiências internacionais atestam que a taxação sobre refrigerantes ou bebidas açucaradas não freia de forma significativa a obesidade nem induz mudanças nos hábitos de consumo da população, podendo causar impacto econômico negativo. O setor de bebidas não alcoólicas tem desenvolvido uma série de ações para incentivar o consumo consciente e hábitos saudáveis, com a oferta de opções de formatos, ingredientes e redução de calorias, para apoiar a tomada de decisão de acordo com o perfil de cada consumidor. O que de fato funciona são esforços coordenados do governo, da indústria e da sociedade, para implementar soluções com base em evidências científicas. Precisamos combater a obesidade com a seriedade que o problema exige. (Alexandre K. Jobim, presidente da Associação Brasileira de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas – Abir)